olá!!!!
seja bem vinde ao segundo capítulo dessa newsletter.
ontem, como vocês sabem (ou talvez não né vai saber) foi dia da mulher.
eu fiquei refletindo se fazia uma postagem toda milituda ou se ligava o fodasse e fingia que toda a raiva que eu passei ontem nem existiu. vou dizer a verdade: escrevi um textão sobre como devemos dar visibilidade pra mulheres e etc e apaguei. to cansada. me dei conta que talvez ser uma mulher que escreve apenas sobre mulheres já seja militância o suficiente pra hoje.
ok, agora voltando para a temática principal da newsletter: falar de mulher e falar de arte.
hoje eu vou contar sobre minha pintora favorita: artemísia gentileschi (1593 – 1656). quero falar um pouquinho dela, mas não pretendo dar foco pra tantas obras em si (pelo menos não hoje), mas sim para apenas uma tela: autorretrato como alegoria da pintura.
quando falamos sobre uma história da arte feminista, artemísia é uma figura obrigatória!! ela é mais conhecida pela tela judith decapitando holofernes (1612-1613), também conhecida como esse quadro aqui:
mas, como falei anteriormente, não é dele que escreverei hoje.
pois bem, artemísia nasceu em 1593, em roma. o seu pai é orazio gentileschi, um grande pintor da época e foi ele quem a influenciou nos seus primeiros estudos na pintura.
o pai de artemísia acabou virando tutor de um outro pintor na época, chamado agostinho tassi. durante esse período trabalhando no atelie, tassi estuprou artemísia, que tinha 18 anos na época. ela continuou a ter encontros com ele por conta de uma promessa de casamento, mas isso nunca aconteceu. ela, juntamente com seu pai, levaram o caso à corte para julgamento. o processo durou cerca de oito meses e a sentença foi que tassi ficaria cinco anos exilado, porém, isto nunca aconteceu (tedesco, 2013).
essa mudança foi muito importante para artemísia, pois foi nessa época que ela pintou suas telas mais notáveis, como judith e a criada e judith degolando olofernes (mostrada anteriormente).
além dessas pinturas, artemísia tem uma que eu propriamente gosto muito, chamada suzana e os velhos. ela se trata de uma passagem horrorosa da bíblia que já foi retratada por diversos pintores e pintoras, mas grande parte desses pintorEs coloca suzana em uma posição vulnerabilidade, extremamente erotizada, enquanto a versão de artemísia é completamente diferente.
(posso falar dessas diferentes versões na próxima edição... talvez - )
pois bem, falando historicamente, artemísia pertenceu ao período barroco, ou seja, ela fazia muito uso da luz e sombra, imagens bem contrastadas e com forte influência religiosa (isso resumindo muito tá gente vamos com calma). como grande parte dos artistas da época, ela era muito fãzoca do caravaggio.
ENTÃO GENTE, SEM MAIS DELONGAS, VAMOS FALAR DO QUE A GENTE VEIO AQUI FALAR: o autorretrato como alegoria da pintura, de 1630:
essa tela pode parecer bem simples para algumas pessoas, mas apresenta muitos pontos nos quais eu sou obcecada. fun fact: já vi essa tela ao vivo e chorei.
segue eu com a tela:
infelizmente não dá pra me ver chorando né, então vocês vão ter que acreditar em mim.
pois bem, voltando para a tela em si e agora, sem mais delongas de verdade, eu vou realmente falar dela!!!!!
primeiramente, existe uma questão histórica que me faz amar essa tela, que é o que está representado nela. artemísia viveu em uma época que a maioria das mulheres só pintavam paisagens e raramente retratos de outras pessoas, quem dirá um autorretrato. nessa época, grande parte das mulheres não eram aceitas em academias de arte e quando eram aceitas, não faziam aulas com modelos vivos, por isso raramente vemos pintoras clássicas trabalhando essa temática... raramente víamos pintoras mulheres trabalharem também com temas bíblicos e históricos, que são basicamente o foco de artemísia.
(óbvio que nos últimos anos, estamos cada vez mais avançando nas pesquisas desse campo e conhecendo muito mais artistas mulheres, mas comparando com homens? ainda são pouquíssimas!!!)
artemísia teve também um grande privilégio de aprender a pintar com seu pai, mas ainda assim, ela foi conhecida ainda em vida por conta de sua profissão, o que eu acho sinceramente muito foda.
falando agora dos elementos da tela em si, vou deixar algumas imagens de alguns pontos específicos que eu gosto muito:
meu deus bruna mas isso é praticamente a tela inteira!!!!
sim!!!!! é mesmo!!!!!! eu amo essa tela!!!!!!!!!!
mas ok, vamos lá. primeiro de tudo, gostaria de falar que eu amo mãos. e apesar de não ser a maior fã de pintura, amo pintura de mãos. acho muito simbólico esses focos de luz que artemísia coloca em suas mãos, principalmente enfatizando tanto o seu oficio de pintora.
uma coisa que eu gosto muito nessa tela é que o fundo é praticamente inexistente, fazendo com que o foco seja justamente nesse ofício, fazendo com que a gente foque apenas nela e em sua ação de pintar. para mim, é quase como se ela clamasse por essa ação, como se quisesse deixar bem claro para todos “é isso mesmo galera aqui não é bagunça profissão artista viu!!!!!!”
outro ponto que gosto muito é sua vestimenta. acho muito bonito o detalhe do seu vestido verde meio amassado na altura do cotovelo, e gosto mais ainda do detalhe da renda em seu colo. penso que seja uma tentativa de colocar uma certa delicadeza ali, em uma profissão que era vista como tão masculina. um destaque também para o colar com um rosto masculino que ela tá usando.
e amo amo amo o rosto dela. o cabelo meio desgrenhado, um coque meio solto e os fios caindo do lado de seu rosto. e ela ali, completamente focada em sua produção. quase como se mais nada no mundo existisse. e sei lá, talvez naquele momento mais nada estava existindo mesmo.
eu não sei nem mais o que dizer. só sei que amo essa tela e amo essa mulher.
me faltam palavras pra encerrar esse texto, sabe. só sei que é isso mesmo.
espero que tu tenha gostado. até a próxima!
beijitos
ref:
TEDESCO, Cristine. Quello che sa fare una donna: um estudo sobre Artemísia Lomi Gentileschi na perspectiva da História. In: Anais eletrônicos do II Encontro história, imagem e cultura visual, 2013, Porto Alegre, p. 1-11. Disponível em: www.anpuh-rs.org.br/arquivo/download?ID_ARQUIVO=39173. Acesso em: 09/03/23.
Não sei muito sobre pinturas e amei conhecer um pouco sobre a história dessa artista. Colocaria o quadro da decapitação na minha sala